O Parque Nacional da Chapada Diamantina ocupa uma área enorme de 1520 km quadrados no estado da Bahia. A cidade de Lençóis, a 426 quilômetros de Salvador, é a principal cidade-base para visitar a região, mas além dela, outras boas cidades de apoio são Andaraí, Capão (Caeté-Açu), Igatu e Mucugê.
A Chapada Diamantina é um destino maravilhoso para os fãs do ecoturismo e do turismo de aventura. Em meio a exuberantes cenários, cercados por belas cachoeiras, poços de águas transparentes, grutas com formações raras e trilhas por paisagens grandiosas, o destino ainda conta com várias cidades históricas, boa gastronomia e um povo muito hospitaleiro.
Subir o Morro do Pai Inácio, ver a imensidão da paisagem no alto da Cachoeira da Fumaça, mergulhar nas águas transparentes da Pratinha e assistir ao espetáculo da luz no Poço Azul e no Poço Encantado é apenas o primeiro passo para conhecer um dos mais espetaculares roteiros de natureza do Brasil.
A seguir tudo o que você precisa saber antes de ir.
– Morro do Pai Inácio
O Morro do Pai Inácio fica a 26 km de Lençóis e é um dos ícones da Chapada Diamantina, entre os passeios mais populares de Lençóis. Apesar de parecer ser uma subida muito difícil, a caminhada até o topo do morro do Pai Inácio é uma trilha possível para quase todo mundo. São apenas 500 metros de subida íngreme, e com um pouco de fôlego e algumas paradas para fotos você chega lá.
Do alto é possível ver a imensidão da Chapada Diamantina. De um lado estão os Morros Três Irmão e do outro o maravilhoso espetáculo do pôr do sol. Um detalhe, pouco visto, torna tudo ainda mais especial: um coração de pedra! Você precisará encontrar o ângulo certo para ver o coração, que é formado pelas rochas.
É importante dizer que a subida ao Pai Inácio é autorizada apenas até 17h. Não deixe para a última hora ou você poderá perderá o pôr do sol. A descida é permitida depois deste horário. Leve uma lanterna para poder ficar no topo até os últimos raios de luz. O ingresso para o Morro do Pai Inácio tem custo de R$ 12 por pessoa. O passeio pode ser feito por conta própria ou com agências de turismo.
– Cachoeira da Fumaça
A Cachoeira da Fumaça é uma das maiores quedas d’água do Brasil e tem um dos mais lindos cenários do Parque Nacional da Chapada Diamantina. O passeio mais comum entre os turistas que estão na Chapada é a trilha da “Fumaça por cima”, trajeto de 12 km (ida e volta) que leva ao topo da cachoeira. O percurso exige um pouquinho de fôlego, já que os primeiros 2 km são uma boa subida. Depois de vencer o desafio inicial é só seguir em terreno plano até começar a sentir os pingos de “chuva” que anunciam a chegada à Fumaça. O vento constante no local faz “voar” a água da cachoeira e a transforma em uma espetacular névoa. Com um pouco de sorte (e sol) será possível até mesmo ver a formação de arco-íris em meio aos imensos paredões rochosos que emolduram a Cachoeira da Fumaça.
Quem fizer a linha mais aventureiro e estiver em busca de roteiros com maior imersão na natureza poderá investir na trilha da “Fumaça por baixo”. Com grau de dificuldade alto e um percurso de 36 km (ida e volta e com acampamento), a Fumaça por baixo leva aos pés da queda d’água. Um passeio para poucos, mas certamente um visual inesquecível. Neste caso, um guia é altamente recomendável.
Nadar em um cânion até chegar à Cachoeira do Buracão
O Buracão oferece uma experiência única e é capaz de causar um misto de emoções nos viajantes, mesmo os que estão acostumados ao turismo de natureza. O que torna o Buracão tão especial é que, para chegar os pés da cachoeira, é preciso nadar por dentro de um cânion estreito. E somente ao final do trajeto (depois de ouvir o ensurdecedor som da cachoeira e nadar contra a correnteza) você verá o majestoso salão formado por grandes paredões rochosos onde está a queda de 85 metros que forma a Cachoeira do Buracão. Quando a água não está muito forte é possível até mesmo ficar atrás da queda observando a cachoeira. É intenso, lindo e simplesmente emocionante! Todos os turistas são obrigados a estarem acompanhados de um guia e também a usar colete. Mesmo quem não sabe nadar pode chegar até a cachoeira.
Depois do banho energizante no Buracão, os turistas seguem a trilha até o topo da cachoeira, de onde podem ver a força da água e a beleza do local onde tiveram o privilégio de nadar. São apenas 6 km de caminhada de nível fácil (ida e volta), com direito a banho e visita a outras cachoeiras, como a Buracãozinho (em meio a um pequeno cânion), a Recanto Verde e a Cachoeira das Orquídeas.
Serrano
O Serrano é a praia de Lençóis! E como boa praia, ele é uma excelente pedida para curtir sem pressa ou obrigações. Localizado a apenas 10 minutos de caminhada do centro da cidade, o Serrano, é um conjunto de corredeiras onde há a formação de incontáveis piscinas naturais, com os mais diferentes tamanhos, formas e profundidades. Há piscininha pra todo mundo e você poderá escolher uma delas para ser o seu ofurô particular por algumas horas.
Como se não bastasse a maravilha de ter tantas piscinas, o Serrano ainda oferece um lindo visual para a cidade de Lençóis. Com mais tempo à disposição para os passeios será possível fazer todo o circuito do Parque da Muritiba, que inclui ainda o salão de areias coloridas, o Poço Halley, a Cachoeirinha e a Cachoeira da Primavera. Para o passeio completo um guia é altamente recomendável (há muitas bifurcações na trilha e o risco de se perder é grande). Já para ir apenas ao Serrano não é necessário o guia. O pôr do sol é especialmente bonito por lá.
Vale do Pati
O Vale do Pati tem fama de ser um dos mais belos trekkings do Brasil. O Pati é um pedacinho quase intocado da Chapada Diamantina, onde não chegam carros, não há luz elétrica ou sinal de celular. É o tipo de experiência para quem deseja imersão total na exuberante natureza do interior da Bahia. A vantagem do Pati é poder percorrer dezenas de quilômetros de trilhas sem precisar carregar barraca ou comida para todas as refeições. O pernoite é quase sempre na casa dos nativos, o que ajuda a carregar bem menos peso e permite caminhar mais leve e por mais tempo. No Vale do Pati vivem algumas poucas famílias que recebem com muito carinho os viajantes que estão na trilha.
Ver os fachos de luz no Poço Azul e no Poço Encantado
O fenômeno tem data e hora marcados para acontecer e não pode ser presenciado durante todo o ano. É preciso se organizar para ver o espetáculo e também contar com um lindo dia de sol, o que permite a entrada dos raios. A transparência da água e o tom azul no interior das grutas é maravilhoso, valendo cada minuto da estrada até lá!
No Poço Encantado, localizado a 140 km de Lençóis, o fenômeno pode ser visto de abril a setembro, entre 10h e 13h30. A visita inclui apenas a observação, não sendo autorizado o banho. O ingresso tem custo de R$ 25 e o passeio dura 15 minutos. Já no Poço Azul, distante 94 km de Lençóis, o destaque é a possibilidade de flutuação nas águas transparentes da gruta. O raio de luz é visível apenas de fevereiro a outubro, entre 12h30 e 14h, mas a flutuação é uma experiência maravilhosa durante todo o ano. O ingresso tem custo de R$ 30 e inclui a flutuação.
Vale dizer que durante a alta temporada e feriados prolongados a visita aos dois poços costuma ter filas (que podem ultrapassar duas ou três horas). Como estão distantes de Lençóis, os dois passeios podem ser casados com um pernoite em Mucugê ou Igatu e no dia seguinte a trilha para a Cachoeira do Buracão.
Relaxar nas águas da Pratinha
A Fazenda Pratinha é um dos lugares prediletos de quem quer relaxar depois de uns dias de passeio pela Chapada Diamantina. O espaço parece um balneário e oferece diversas atrações para um dia de passeio. Há flutuação nas águas transparentes do rio Pratinha, que passa por dentro de uma gruta (com direito a flutuação no escuro); observação do facho de luz na Gruta Azul; mergulho no espelho d’água; tirolesa; caiaque, stand up paddling e pedalinho no lago; restaurante; e até massagem! Ao visitar a Pratinha, não deixe de levar uma câmera subaquática. A água extremamente transparente favorece os cliques debaixo da água, o que sempre rende lindas fotos. O custo de entrada na Pratinha é R$ 40 e as atividades são pagas separadamente.
Entrar em diversas grutas da Chapada Diamantina
A Chapada Diamantina é riquíssima não só em cachoeiras, mas também em diversas formações geológicas. Há grutas em diversas regiões, mas certamente a maior concentração está em Iraquara, distante 75 km de Lençóis. Entre as grutas mais procuradas estão a Gruta da Torrinha e a Gruta da Lapa Doce, as duas com diferentes opções de roteiros e com fácil acesso. Ainda que elas sejam as mais famosas, outras boas pedidas podem ser visitadas na região. Para quem quer fazer um passeio diferente e tem espírito mais aventureiro, vale investir em um rappel na Gruta do Lapão, bem pertinho de Lençóis.
Trilha das Águas Claras
A trilha das Águas Claras é uma boa pedida para quem procura um trekking sem muito esforço. O trajeto segue por terreno quase sempre plano e durante o trajeto será possível ver alguns dos mais espetaculares cartões postais da Chapada, entre eles o Morro do Pai Inácio e o Morrão. Tudo com direito a um refrescante banho em meio a águas realmente cristalinas da região. Os roteiros saem do Vale do Capão e chegam ao Pai Inácio ou vice-versa. É possível ainda fazer bate e volta a partir dos dois pontos e com percurso apenas até a metade. Águas Claras é uma experiência para quem gosta de longas caminhadas (são 18 km ida e volta), paisagens espetaculares e não faz questão de uma grande cachoeira para banho.
Conhecer diferentes cidades e vilas da Chapada Diamantina
Lençóis é a principal base de hospedagem e também a cidade com maior oferta de serviços, agências de turismo e restaurantes entre os destinos turísticos da Chapada Diamantina. Por lá chega o único voo comercial para a Chapada Diamantina (que faz a rota Salvador – Lençóis duas vezes por semana, atualmente suspenso por conta da pandemia de Covid) e também o ônibus que sai de Salvador três vezes ao dia. Com tudo isso Lençóis é destino quase certo de todos que viajam rumo à Chapada. Onde comer em Lençois: Um dos melhores restaurantes da chapada também está lá, o Cozinha Aberta, de slow food e ingredientes regionais orgânicos. No centro recomendo a moqueca do Lampião, que tem versão vegetariana. Para comer massa de um chef italiano, vá ao Aristas da Massa. Ainda que a cidade seja mesmo a porta de entrada de muitos turistas, ela não é a única na região que merece uma visita. Há outras boas opções tanto para passeio quanto para pernoite. Na verdade, escolher pernoites em diferentes localidades ajuda a economizar tempo no trajeto e torna a viagem bem menos cansativa, sendo assim, explore outras cidades e vilas da Chapada Diamantina.
Capão é um o vilarejo localizado em Palmeiras e distante 72 km de Lençóis. Com clima mais tranquilo e até alternativo, o Capão atrai o público que busca maior contato com a natureza e também com o lado mais esotérico e holístico da Chapada. Vale um pernoite por lá para sentir o clima mais rústico, comer a famosa pizza da Pizzaria Capão Grande (ou Pizza do Thomas) e estar mais próximo na hora de fazer passeios para a Cachoeira da Fumaça e também para o Vale do Pati. vilarejo vizinho à Cachoeira da Fumaça e com clima mais alternativo; É a capital hippie raiz da chapada, onde a galera de dreads vende cristas cacifados na região e lojinhas e pousadas oferecem banhos de ervas, tortas veganas, roupas indianas, cosméticos naturais, massagens, reiki, tarô, yoga, meditação. Onde comer no Vale do Capão: Para um PF baratíssimo e bem servido, vá ao restaurante da Dona Beli. O lugar mais famoso da cidade é a Pizzaria Capão Grande, que só tem dois sabores, um salgado e um doce.
Igatu preserva casarios coloniais e também construídos em pedra, o que dá um ar de antigamente inigualável ao lugar, resquício dos tempos de garimpo. O acesso, com estrada de pedra, não é dos mais fáceis, mas vale todo o esforço para chegar a esse destino mágico da Chapada. Por lá, aproveite para fazer a trilha para o Mirante do Caim, de onde se tem visão espetacular para o Vale do Pati.
Mucugê, a 147 km de Lençóis com casarios coloniais e cheia de charme. A cidade é especialmente interessante para quem deseja conhecer o Poço Azul, Poço Encantado e o Buracão. Uma noite por lá vai deixar a viagem bem menos cansativa. Mais tranquila do que Lençóis e com a mesma carinha colonial, Mucugê é uma cidade sonolenta de 10 mil habitantes com alguma programação cultural e uns graus abaixo no termômetro pela localização mais alta (quase 1000 metros do nível do mar). Nas lojinhas da cidade vendem-se morangos (!) plantados pelos arredores. Para quem vai ficar mais dias na Chapada e pretende percorrer atrações mais distantes, outras boas pedidas estão em Mucugê, interessante especialmente para quem pretende conhecer o Poço Azul, o Poço Encantado e a Cachoeira do Buracão; Onde comer em Mucugê: Na Pizzaria da Garagem, com pizza fininha e deliciosa por inacreditáveis (para um paulista, pelo menos) R$ 30. Para comida regional, almoce na casa da Dona Nena.
Como se locomover para os passeios na Chapada Diamantina?
Essa é a parte mais difícil para quem pretende explorar a Chapada Diamantina. O transporte público é extremamente limitado, o que torna quase obrigatório alugar um carro, fazer passeio com as agências de turismo, ou contratar guias que ofereçam o transporte incluso.
O carro próprio é uma das melhores maneiras de viajar na região. As maiores vantagens do carro são o roteiro livre de amarras e horários e também a economia com os passeios, especialmente se o grupo for de duas pessoas ou mais. Muitas atrações não precisam de guia e viajar de carro torna o turismo mais independente e barato. Sendo necessário um guia (há passeios nos quais é obrigatório ou altamente recomendável), você poderá contratá-los por diária. A desvantagem de viajar de carro é o desgaste físico nas estradas, que muitas vezes são de terra ou cheias de buraco e caminhões. Você chegará bem mais cansado se estiver dirigindo, o que não acontece nos passeios com agências.
Os passeios e pacotes com agências de turismo são recomendados para quem viaja sozinho (nunca é bom fazer trilhas sozinho, por questão de segurança), para turistas que não querem dirigir e também para quem deseja conforto e despreocupação. Os pacotes das agências já estão prontos e, no geral, incluem guia, lanche, transporte e custo de entrada nos atrativos. É prático, fácil e eficiente. Você ainda terá a chance de fazer muitos amigos, o que sempre rende passeios divertidos e noites ainda mais animadas. A desvantagem de fazer passeio com as agências é o alto custo, o que torna a viagem cara, a depender do número de dias.
Um alternativa para quem está sem carro, mas não gosta de passeios com agências, é contratar um guia particular ou fechar um grupo privativo com as agências. Nos dois casos será preciso negociar o serviço com transporte incluso, já que não há transporte público entre os atrativos. É uma boa solução para evitar grandes grupos e o custo pode ser um pouco mais baixo.
Quando ir e clima na Chapada Diamantina
A alta temporada na Chapada Diamantina é marcada por todos os feriados (prolongados ou não), férias escolares e também pelo mês de agosto, período que costuma atrair muitos europeus. Nessas datas a região fica mais cheia e os preços, especialmente de hospedagem, ficam mais caros. Visitar a Chapada com muita gente pode atrapalhar a experiência de maior contato com a natureza, afinal, nem sempre as trilhas estarão vazias. No resto do ano a Chapada Diamantina costuma ter um ritmo tranquilo, mas sempre com turistas.
O clima também é fator decisivo na hora da escolha do período da viagem. A Chapada Diamantina é marcada por dois períodos distintos. O primeiro, de novembro a março, é quente e úmido, com muitas chuvas e temperaturas mais elevadas. Já os meses de maio a setembro são característicos pelo período mais seco e com temperaturas um pouco mais baixas. Os dois períodos têm vantagens, por isso é preciso estar atento às prioridades da viagem ao escolher o momento ideal para viajar.
A temporada de chuvas na Chapada Diamantina, de novembro a março, deixa a vegetação mais exuberante e as cachoeiras mais cheias, tornando o visual ainda mais espetacular. É neste período também que a água está menos gelada. O lado negativo das chuvas é a dificuldade para fazer algumas trilhas (especialmente as que passam por dentro de cânions, como a Cachoeira da Fumacinha). Alguns passeios se tornarão mais difíceis debaixo de chuva, mas o sol sempre aparece por lá! Já a temporada mais seca, de maio a setembro, ajuda bastante a percorrer as trilhas, especialmente porque o clima estará bem mais agradável se comparado ao verão. O lado negativo é o baixo volume de água de algumas cachoeiras (especialmente a Cachoeira da Fumaça).
E pra quem deseja ver o fenômeno dos raios de sol no Poço Azul e Poço Encantado é muito importante ficar ligado nas datas e também horário do fenômeno. Para ver o raio no Poço Azul, o passeio deve ser entre os meses de fevereiro e outubro, entre 12h30 e 14h. Já para o Poço Encantado, a viagem deve acontecer de abril a setembro e o passeio entre 10h e 13h30. Independente do raio, os dois locais são lindos e merecem visita durante todo o ano.